Vai na fé: “ofertar imaginários para pessoas pretas é importante”, afirma roteirista
Renata Sofia, roteirista do sucesso das 19h da Globo, fala do protagonismo negro na novela.
A novela 'Vai na Fé', no ar na TV Globo, é quase uma unanimidade. Difícil encontrar quem não esteja acompanhando a história de Sol (Sheron Menezes) e elenco. A trama tem de tudo um pouco. Fala sobre a luta de duas mães pretas solo para pagar as contas e criar os filhos, a relação das pessoas negras com a religião, a ocupação de espaços como a universidade e até discussões sobre como somos vistos como elementos suspeitos pela polícia. Uma trama que coloca em pauta uma série de questões que nos atravessam.
Mas, para além de um elenco predominantemente negro, quem está por trás das histórias também são pessoas negras. Conversamos com Renata Sofia, uma das colaboradoras da novela de Rosane Svartman. Ela é autora, roteirista e dramaturga. Já esteve em produções como ‘Detetives do Prédio Azul’ e ‘Temporada de Verão’ da Netflix - ela também é co-criadora de uma série em desenvolvimento no streaming. Renata conversou conosco sobre o longo caminho até entender que ela poderia ser roteirista:
1 - Como é ser uma profissional negra escrevendo uma novela com protagonismo de pessoas negras?
Eu já trabalho com produtos de protagonismo preto há muito tempo. Tanto com projetos meus como com projetos que fui convidada a desenvolver. Só que no audiovisual, tem toda uma lógica complexa de funcionamento. Então muita coisa do que a gente trabalha não vai ao ar ou ainda está em captação. Eu não gosto de falar que eu sempre tive esse foco, porque fica parecendo que é uma coisa que eu me forcei a fazer, mas a questão é que como contadora de histórias, naturalmente eu tenho vontade de contar histórias de pessoas pretas. Isso porque eu quero contar histórias que signifiquem algo para quem eu sou, de onde eu venho e para o que eu quero ajudar a construir nesse país. Assim como pro Spielberg deve ser natural querer contar histórias de personagens de origem judaica. Então, é muito gratificante estar no ar na TV aberta com um produto que chega no Brasil inteiro. É a realização de um sonho. Mas escrever histórias com protagonismo preto é algo que eu sempre busquei e realizei.
2 - Você sempre quis ser roteirista? Quando começou sua carreira imaginou poder trabalhar em algo parecido com 'Vai na Fé'?
Eu descobri roteiro quando eu tinha 15 anos. Eu estudei na Faetec, na escola técnica de publicidade e tive introdução ao audiovisual. Aí eu descobri essa profissão. Eu sempre gostei de escrever. Sempre me vi escritora. Eu sempre consumi muito audiovisual, filme, TV aberta, desenho. Então, a descoberta do roteiro foi algo que fez muito sentido para mim. Mas daí até chegar aos meus 30 anos, já trabalhando como jornalista, e entender que eu poderia perseguir essa carreira, fazer cursos, me inscrever em rodadas de negócio, laboratórios, foi um caminho muito longo.
Mas a partir do momento que eu me entendi como roteirista, fazer algo como 'Vai na Fé', passou a ser um dos meus focos. Como roteirista eu trabalhei com a Rosane Svartman. Eu fiz o site da Malhação Sonhos e de Totalmente Demais e fiquei muito próxima dela. A Rosane foi uma das primeiras pessoas para quem eu mostrei material meu, perguntando opinião, perguntando o que ela sugeria. Então, trabalhar com a Rosane era algo que eu almejava e sabia que poderia estar no meu caminho. Eu era próxima dela, ela conhecia meu trabalho e aí foi uma confluência para eu estar nessa novela. É uma felicidade sem tamanho. Eu sou muito feliz de estar nessa equipe e com uma autora que eu admiro. Além de ser uma novela que está fazendo uma história tão bonita na TV nesse momento.
3 - Como acha que a história dos seus personagens pode impactar na vida das pessoas, principalmente pessoas negras, que assistem à novela?
A gente nunca sabe como a história impacta a pessoa. Eu sou do time que acredita que a arte depois que sai do artista não tem dono. Eu não posso chegar e falar o que eu quis dizer na cena, ela significou e mexeu com o íntimo das pessoas, com a subjetividade. Mas como sociedade, eu enxergo uma construção de um imaginário. Eu sou romântica e idealista e acho que nós fazemos o melhor que a gente pode com o que a gente faz de bom. E eu acredito que o melhor retorno social que posso dar é escrevendo. Escrever é o que eu faço com mais competência. Acredito no poder de uma história bem contada. A gente só consegue sentir empatia por pessoas que estão na nossa imaginação. Eu acho que a gente só consegue sonhar o que já está na nossa imaginação. Isso responde ao porquê eu demorei 15 anos para entender que eu poderia ser roteirista. Porque não fazia parte da minha imaginação, eu não conhecia ninguém que era roteirista, não parecia ser uma profissão de verdade. Não parecia ser uma coisa que alguém parecido comigo podia fazer. Então, eu acredito que 'Vai na Fé' tem esse papel importante de construir imaginários diversos sobre pessoas pretas, sobre relações entre pessoas de classes sociais diferentes, relações interraciais, como se posicionar no mundo. A arte é um alimento da subjetividade e ofertar diversas opções de imaginários para pessoas pretas é muito importante.
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Com curadoria, redação e edição de Emílio Moreno e Juliana Gonçalves. Direção de arte, Larissa Cargnin. Com Colaboração Laura Ribeiro.
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