A sub-representação de mulheres na área da tecnologia não é uma novidade para ninguém. Mas quando olhamos para o percentual de mulheres negras matriculadas no curso de Engenharia da Computação, de acordo com pesquisa da Pretalab, é de assustar: apenas 3%. Também apenas 3% de mulheres negras são líderes na área, com cargo de gerência para cima, segundo a consultoria Gestão Kairós
Conversamos com Nadja Brandão, diretora Executiva da {reprograma}, iniciativa que visa capacitar mulheres em vulnerabilidade social e econômica na área da tecnologia. Ela falou à Firma sobre sua trajetória e também sobre como as empresas podem de fato promover diversidade para que mulheres negras não sejam apenas 3%.
Confira as três perguntas que fizemos a ela:
Nadja, hoje você lidera a iniciativa {reprograma}, mas até chegar nessa posição, quais foram os caminhos e os principais desafios enquanto mulher negra almejando um cargo de comando?
Eu comecei a trabalhar muito cedo, com 14 anos já estava no mercado de trabalho formal.
Analisando minha trajetória, fica muito claro que, em nenhuma das etapas, eu pude "pular degrau". Enquanto outras pessoas eram indicadas para uma promoção (de Junior I para Pleno II, por exemplo), eu tinha que passar obrigatoriamente por todas as fases das políticas internas das companhias sempre tendo que provar ser, no mínimo, o dobro capaz de ocupar determinada posição.
Na época isso não era um problema pra mim, tinha muito orgulho de "superar todos os obstáculos", vivia uma eterna competição velada e sempre à frente das habilidades requeridas. Mas confesso que, passados os anos, foi extremamente exaustivo.
Quando assumi o primeiro cargo de Diretora Jurídica, me auto sabotei todos os dias. Não me via capaz de estar naquela posição e, ao olhar os meus pares, isso ‘se confirmava na minha cabeça’, me sentia sozinha e fora do padrão - agora, depois de aprofundar no tema Diversidade e Inclusão, compreendo que, a falta de ações afirmativas no ambiente corporativo, gera essa insegurança naqueles que não encontram representatividade.
Recebi o convite para assumir a cadeira de CEO como um reconhecimento de toda a robusta dedicação e experiência no mercado corporativo, estava pronta e a oportunidade me encontrou. O mais importante é que agora posso propor e implementar, com poder de decisão, as melhores práticas inclusivas, buscando contribuir para consolidar carreiras de outras mulheres.
Você acredita que o baixo número de mulheres negras em cargos de liderança tem relação com a falta de foco na diversidade das empresas? De que forma empresas podem formar lideranças negras?
Sim, acredito que o baixo número de mulheres negras em cargos de liderança está diretamente relacionado à falta de intencionalidade nas ações de diversidade das empresas. Muitas organizações ainda têm processos seletivos e culturas corporativas que reproduzem vieses inconscientes e, por falta de equidade, naturalmente excluem mulheres negras das oportunidades de liderança. Para formar lideranças negras, é essencial investir em programas de diversidade, equidade e inclusão, promover treinamentos para eliminar preconceitos e garantir que processos seletivos sejam inclusivos e livres de discriminação. Além disso, é importante criar um ambiente de trabalho que valorize e reconheça as contribuições de todas as profissionais, independentemente de sua origem ou identidade.
Acredita que iniciativas como a {reprograma} contribuem para que mais mulheres negras cheguem a cargos de liderança. De que maneira isso ocorre?
Com certeza, iniciativas como a {reprograma} têm um papel fundamental para aumentar a representatividade e contribuir para que mais mulheres negras alcancem cargos de liderança. A {reprograma} trabalha para diminuir a lacuna de gênero no setor de tecnologia, oferecendo capacitação gratuita para mulheres em situação de vulnerabilidade, priorizando em seus processos seletivos negras e/ou trans e travestis. Ao proporcionar acesso à formação e empoderamento tecnológico, capacitamos mulheres negras para ingressarem em carreiras de destaque na área de TI. Além disso, ao promover uma comunidade de apoio e mentoria, a {reprograma} fortalece a autoconfiança e o networking dessas mulheres, permitindo que elas se posicionem como líderes e agentes de mudança em suas carreiras e na sociedade como um todo.
Vagas desta edição
GENTE. A empresa de tecnologia e gestão de pessoas Sólides está com vagas abertas em diversas áreas como comercial, tecnologia, marketing e recursos humanos. As oportunidades são para Belo Horizonte.
TECH. O Bradesco está com as inscrições para o Programa de Estágio 2023. As oportunidades estão localizadas em Barueri-SP, São Paulo-SP, Osasco-SP, Curitiba-PR e Uberlândia-MG.
SAÚDE. A Digital Dasa em São Paulo tem uma vaga aberta para Líder de Tecnologia. Entre as atividades atuar com as equipes na modelagem, elaboração e execução de testes funcionais, regressivos, exploratórios.
DELAS. A Artplan tem uma vaga aberta para Coordenadora de Conteúdo - Vaga afirmativa para mulheres em São Paulo. É preciso experiência comprovada como criador de conteúdo, redator ou função semelhante.
TRAINEE. Até o dia 01 de setembro estão abertas as vagas para o Programa de Trainee 2024 do Santander. As oportunidades são para áreas como Atacado, Wealth Management, Riscos, Finanças, Tecnologia, Varejo, entre outras.
AGRO. Estão abertas até 31 de agosto as inscrições para o Programa de Estágio da Bayer, com 110 vagas espalhadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Bahia, Goiás e Paraná.
VOAR. A Azul anunciou abertura das inscrições para o Programa de Estágio 2023. Serão disponibilizadas 63 vagas e os interessados podem se inscrever até o dia 16 de agosto.
Pra pensar…
Nesta semana, termina a novela Vai na Fé, que com protagonismo negro bateu recordes de faturamento na TV Globo. Além do sucesso, a novela trouxe a criação de novos imaginários para pessoas negras - como bem nos disse a roteirista Renata Sofia em entrevista aqui na Firma Preta.
Essa lógica continua com a presença de Maria Flor no folhetim que substitui a trama das 19h. Em um país em que a polícia comete chacinas e mata crianças negras, precisamos desses novos imaginários.
A Firma
Com curadoria, redação e edição de Emílio Moreno e Juliana Gonçalves.
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