Sobre saúde mental, racismo e burnout
“Seja compassivo com a sua história e aprenda a aceitar os elogios sem pôr em dúvida sua validade”
O tema da entrevista deste mês na nossa newsletter é saúde mental. O episódio do Lucas Penteado no #BBB21 fez a Dandara Aziza, que é psicóloga clínica e mestranda em psicologia na UFRJ, escrever uma thread no Twitter sobre racismo e a nossa psique. Ela listou vários pontos de como as feridas causadas pelo racismo podem nos adoecer e como é importante para a população negra falar sobre o cuidado com a nossa saúde mental.
Durante a leitura dos tuítes da Dandara, eu (Juliana Gonçalves) me lembrei de episódios que contribuíram para que eu chegasse a um quadro de Síndrome de Bournout no ano passado. Foram anos metida em vários corres para conseguir fazer dinheiro. Trabalhando todos os dias tendo de provar que sabia o que estava fazendo, lidando com o fato de que nós negros precisamos ser três vezes melhores, tendo ciência da diferença salarial, batalhando para conseguir ser ouvida e sabendo que não podia errar me fizeram chegar ao limite.
Hoje, estou bem, estou me tratando, tenho acompanhamento psiquiátrico e terapêutico. Precisei fazer mudanças na vida e, inclusive, a Firma Preta surge para mim como uma forma de evitar que outras pessoas passem pelo que passei. Como, para além de divulgação de vagas de emprego, esse também é um espaço para refletirmos e nos fortalecermos, fui procurar a Dandara para falar sobre o racismo e Bournout que me adoeceu.
Três perguntas para Dandara Aziza:
Como a reprodução de ideias de que o negro não pode errar e a eterna batalha para provar que é um profissional qualificado afetam a saúde mental do trabalhador negro?
A relação do negro com sua vida profissional é marcada por desigualdades em relação aos brancos, que ocupam os melhores cargos, recebem os melhores salários e tem trabalhos menos extenuantes. Mesmo entre pessoas que estão nas mesmas condições laborais podemos ver o racismo operando através do privilégio da brancura. Esse cenário leva os negros a conviverem de forma permanente com a provação de sua capacidade profissional. Muitos de nós já ouvimos ou reproduzimos que nós negros precisamos ser duas vezes melhores. Repetimos isso com o intuito de nos preparar para o racismo que iremos encontrar no espaço profissional. Contudo, essa afirmação pode gerar uma rigidez muito grande com nós mesmos. Assim alimentamos a ideia que nunca está bom o suficiente e que não podemos cometer erros, pois ao mero equívoco tudo pelo que se batalhou pode ir por água abaixo. Essa pressão pode gerar ansiedade, excesso de autocrítica, insegurança, medo e a necessidade urgente de uma reavaliação de nossas conquistas e da capacidade profissional.
O racismo no ambiente de trabalho favorece os quadros de Bournout?
A síndrome de Bournout é caracterizada pelo excesso de estresse, pela angústia e pelo esgotamento gerados no ambiente profissional. A pressão gerada pela vida moderna, em que estamos sempre conectados, vigiados em nossas redes sociais por possíveis empregadores, parceiros de trabalho, clientes ou respondendo a demandas nos nossos E-mails e Whatsapp mesmo fora de nosso horário de trabalho podem gerar um acúmulo emocional que nos deixa tensos, sobrecarregados e pode prejudicar nossa saúde mental. Além destes fatores, os negros têm os piores salários, são os mais atingidos pelo desemprego e tem as piores condições laborais e em seu ambiente de trabalho são expostas a fatores de estresse relacionados a discriminação racial no âmbito interpessoal o que pode as deixar mais vulneráveis a quadros como a síndrome de Bournout.
Como driblar essas armadilhas para a nossa saúde mental?
O primeiro passo é reconhecer que precisamos dar atenção a nossa saúde mental. Nesse processo é importante que a gente seja mais compreensivo com as nossas limitações e procure valorizar nossas conquistas e potencialidades. Seja compassivo com a sua história e aprenda a aceitar os elogios sem pôr em dúvida sua validade. Também é importante que tenhamos uma rede de apoio para compartilhar nossas vulnerabilidades e caso necessário procurar a ajuda de um profissional de saúde mental.
Cuidem-se!
Vagas desta edição
Código. A Afroya Tech Hub seleciona gerente de engenharia sênior. É preciso experiência em desenvolvimento de software, desenho e arquitetura de soluções, excelência técnica em boas práticas de desenvolvimento (TDD, Design de Código, etc). Local de trabalho: São Paulo - SP. Pessoas interessadas e/ou com indicações deverão enviar currículo para: talentos@afroya.tech com o título “EM21H”.
Dev. O Instituto Moreira Sales, no Rio de Janeiro, seleciona O(a) programador(a) front e back-end para atividades relacionadas aos sites do ecossistema digital do instituto, como parte da Coordenação de Internet. O contrato é na modalidade teletrabalho, com salário R$ 7.000 e Vale Refeição e Alimentação (valor total: R$ 1.500). Inscrições até 19/2.
Tecnologia. A Microsoft (SP) está com vagas abertas para diversas áreas. Entre elas, Customer Engineer – Apps & Infra – Development; Customer Engineer; Senior Data & Applied Scientist e Partner Technical Consultant. As inscrições são feitas pela página de recrutamento da empresa.
Manda frilas. A Agência Mural (SP) está em busca de colaboradores freelancer: editor-a de texto assistente, programador-a e web designer. Para se inscrever é só preencher o formulário referente à área que se encaixa, anexar seu CV (com endereço completo), carta de motivação e portfólio até dia 10/2.
Na batida. A produtora KondZilla busca profissional para vaga de analista de recursos humanos. É necessário a formação em psicologia ou administração de RH, sendo um diferencial a especialização. Encaminhe seu currículo atualizado com pretensão salarial para: silvia.frange@kondzilla.com.
Pública. A ONU Brasil procura profissional de comunicação para vaga de assistente de informação pública. A vaga é para um trabalho de três meses e as inscrições devem ser feitas até 19/2. É preciso ter graduação em comunicação e pelo menos três anos e experiência.
Direitos humanos. A Conectas está com uma vaga aberta (CLT) no time de comunicação para editor(a) de conteúdo, preferencialmente para pessoas negras. Oferece bolsa inglês, convênio médico e odontológico, convênios. Se você tem experiência em produção de conteúdo, criatividade e paixão pela causa dos direitos humanos, esta é uma oportunidade para você. Veja o edital. Inscrições até 21/2.
Criatividade. A Fala Criativa está contratando executivo de atendimento sênior. O profissional deve ser formado em Jornalismo ou Relações Públicas, com experiência em agência de assessorias de imprensa ou PR, startups ou empresas ligadas em inovação e negócios, e boa noção de negociação com veículos e branded. Início imediato.
Equidade. O Instituto Singularidades abriu edital para o programa de bolsas integrais de “Equidade Racial” para o curso de Letras, Matemática e Pedagogia para alunos negros ou pardos de baixa renda. Serão concedidas 14 bolsas integrais para o primeiro semestre de 2021. As inscrições vão até o dia 12/2.
Transformar. A organização educaTRANSforma está com inscrições abertas para formação em administração de redes. São 15 vagas gratuitas para mulheres travestis e pessoas trans. As inscrições vão até 9/2 e o início das aulas 22/2. Os participantes precisam ter computador e acesso à internet.
Pretas. A Os institutos Feira Preta e Afrolatinas, em parceria com a Fundação Open Society, abrem inscrições para o edital do Latinidades Pretas. Serão repassados R$ 100 mil em cem bolsas de auxílio financeiro para empreendedores que atuam com cultura e economia criativa. As inscrições vão até 20/2 no site www.latinidadespretas.com.br.
Mercado. A Escola RUA, projeto de inclusão de diversidade na propaganda, focado em pessoas de regiões periféricas e no público negro, em parceria com a agência CP+B formatou um curso com as disciplinas de Criação, Atendimento, Estratégia e Mídia. O curso será dividido em dois módulos. Veja como se inscrever.
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