
A ideia inicial desta edição seria uma carta à Folha de S.Paulo, que há pouco tempo promoveu um programa de trainee para pessoas pretas, mas que publica conteúdos de cunho revisionista e racista do seu colunista Leandro Narloch. No entanto, após a coluna do ombudsman do jornal, mudamos um pouco o tom e a proposta dela. José Henrique Mariante, ao invés de fazer uma análise crítica do tema, preferiu a inacreditável defesa do colunista. É do jogo.
Além disso, ele, do alto do seu lugar de privilégio branco, questiona se o jornal tradicional paulistano é racista. A resposta é sim. É absolutamente possível ser racista mesmo com políticas afirmativas - aliás, é assim em muitos lugares. Toda a estrutura do Brasil é racista, e a Folha não fica fora disso.
Diz ainda o texto do ombudsman:
“O preconceito não é mais do jornalista, é do jornal que o acolheu. O mesmo jornal que montou uma editoria de diversidade, fez um trainee para jornalistas negros e que contratou essa turma acima por entender que isso era importante, que a Folha precisava de novos horizontes e públicos.”
Esse trecho é puro suco da estrutura racista e preconceituosa do Brasil. Poderia ser emoldurada e colocada na entrada da redação – não apenas da Folha –, mas espalhada pelo país, para que as empresas entendam, de uma vez por todas, que políticas afirmativas não são caridade.
Os brancos inventaram, estruturaram e, até hoje, se beneficiam do racismo, então, eles que lutem para resolver isso. Não fiquem por aí de mimimi perguntando para os pretos se estão fazendo mais ou menos para acabar com o racismo. Nossa dor não é mercadoria para ser tratada como uma commodity negociada em mesas de diretorias, conselhos ou mercado financeiro.
Antes de perguntar, Mariante poderia ter feito uma pesquisa mais cuidadosa – um de nós teria feito com certeza, já que somos cobrados duas ou três vezes mais que os brancos em tudo que fazemos –, nos arquivos do jornal e teria encontrado o editorial de 27 de abril de 2009, em que a Folha criticou a política de cotas nas universidades brasileira. Sim, essa é uma atitude racista. O texto dizia: “critérios raciais para ampliar acesso a escolas públicas produzem situações absurdas e devem ser abandonados”. Não foi a única vez que o jornal condenou as políticas afirmativas de educação para a população negra.
Somente em 2020, o mesmo jornal adotou um programa de diversidade, e em 2021, isso mesmo, esse ano, ajustou o seu conselho editorial buscando mais diversidade. Talvez, por isso, já imagina estar isento da estrutura racista criada pelos brancos. Que autoestima senhoras e senhores!
Tem nome o que a Folha faz e não é nem diversidade ou inclusão. É tokenismo. Joga no Google aí, branco aliado. O Cristiano Rodrigues, aliás, escreveu um ótimo texto no Twitter sobre a “confusão” que algumas empresas insistem em praticar. Veja só esse trecho:

Você não deixa de ser racista por participar de atividades de treinamento para a diversidade. Isso só é acontece quando toda a estrutura se modifica, e a coluna da Folha deste domingo é prova disso. Não se pode falar em igualdade e diversidade e seguir ignorando práticas racistas, sexistas, lgbtfóbicas, entre outras. É preciso promover mudanças estruturais em todos os níveis organizacionais e isso só acontece com uma revisão completa da cultura organizacional.
Por fim, a Firma Preta presta solidariedade ao advogado e colunista do jornal Thiago Amparo e a todos os pretos que, independente de classe, posição e sexo, são expostos a ambientes que se dizem diversos, mas que, na verdade, são blefes organizacionais. Sigamos!
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Vagas desta edição
Ciência. O Instituto Internacional para Sustentabilidade está em busca de uma pessoa para vaga de Jornalista Científico(a). Além de conduzir as atividades de jornalismo científico e divulgação científica, também estará sob sua responsabilidade o desenvolvimento de conhecimento pelos pesquisadores da think-tank.
Publicidade. A Ogilvy, em São Paulo, está com uma vaga aberta para Vaga HR Business Partner – Exclusiva para pessoas negras. A contratação é na modelo de trabalho híbrido. Veja os detalhes da vaga e como candidatar-se.
Estudar. As inscrições para o Programa Alcance, em parceria com a Fundação Lemann foram prorrogadas até 10/1o. O programa busca pessoas negras e indígenas que estão trabalhando para transformar suas comunidades no Brasil e que desejam cursar uma pós-graduação.
Gelada. O Programa de estágios Zé Delivery – Exclusivo para pessoas pretas recebe inscrições até 15/20. As vagas são para as áreas de Dados, Marketing, Design, Pessoas, Engenharia de Software, Operações, Produto, Comercial e Financeiro. Não é necessário estar em um curso relacionado às áreas. Veja como se inscrever.
Pretxs. A Quero Educação está com vagas abertas em diversas áreas. As inscrições são feitas pelo site de carreira da organização. Entre os times com oportunidades disponíveis estão: Marketing, Inteligência, Comercial, Ensino e Administrativo. Veja os detalhes das posições e como candidatar-se.
Casa. A imobiliária digital QuintoAndar, em São Paulo, está com Vaga afirmativa para pessoas negras: Analista de Branding Sênior; Analista de Social Media Sênior; Gerente de Data Analytics; Especialista de Estratégia de Marketing; Analista de Social Listening Pleno; Especialista de Marketing de Campanhas.
Motor. A Ford abriu as inscrições para seu programa de estágio 2022, para estudantes interessados em estagiar nas unidades de Salvador e Camaçari (BA), e São Paulo e Tatuí (SP). Como requisitos, os candidatos devem estar cursando a partir do antepenúltimo ano de graduação e matriculados no período noturno.
Pra pensar…
Gastamos com estudos, investimos tempo, compramos bons equipamentos, mas sempre tem aquele que acredita que pela nossa origem periférica não podemos cobrar o preço justo pelo trabalho. Leiam esse postagem e entendam que essa atitude também é racismo.
Comunidade Firma
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💻 Com curadoria, redação e edição de Emílio Moreno e Juliana Gonçalves. Direção de arte, Larissa Cargnin.
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