Já ouviu falar da jornada do abandono?
Falta de lideranças engajadas na promoção de pessoas negras é um fator decisivo em suas trajetórias
Por Emílio Moreno*
Nova pesquisa sobre desigualdade racial feita no Brasil expõe como as empresas resistem em avançar em ações de diversidade. O levantamento "Lideranças em Construção", feito pela Indique uma Preta, consultoria de Diversidade & Inclusão, e a Cloo, empresa de investigação e consultoria comportamental, mostra que somente 8% dos negros estão em cargos de liderança no Brasil, e menos de 5% das lideranças das 500 maiores empresas do País são negras.
Você pode pensar que é uma notícia repetida, mas infelizmente o estudo é mais uma prova de que a branquitude resiste em aceitar mudanças mais profundas na estrutura racista do nosso país. No momento em que você lê mais esta edição da Firma Preta pode pensar que é uma boa ideia encaminhá-la à colega, seja ele um branco aliado, ou até mesmo para uma liderança negra. A sensação ao fazer isso é de estar sozinho nessa missão. E não é apenas impressão.
Ao questionar o conhecimento das pessoas sobre políticas afirmativas nas empresas, quase todos os grupos demonstram não saber se essas políticas existem ou não. Segundo os dados, os homens negros são os que têm mais conhecimento sobre a presença de ações afirmativas em suas organizações.
O estudo mapeou um movimento chamado de jornada do abandono. Quando perguntados se as lideranças sob qual elas já trabalharam participaram do seu desenvolvimento profissional, a resposta foi assustadora. Dos entrevistados, 37% responderam que não enxergam o que suas lideranças auxiliaram no seu desenvolvimento profissional. Já outros 17% disseram que as lideranças nos lugares que passaram não auxiliaram no seu desenvolvimento profissional.
Não bastasse um número tão pequeno de lideranças negras nas empresas no Brasil, quem alcança esse lugar não tem qualquer apoio para o desenvolvimento profissional e de sua equipe. Segundo o estudo, pessoas negras que não são potencializadas por seus líderes, experienciam a jornada do abandono.
Ainda segundo o levantamento, a jornada do abandono é uma série de obstáculos desde a hora de buscar emprego até o momento de prosperar na área dentro da organização. É quando profissionais negros são desassistidos ao trilharem suas trajetórias, porque não tem apoio institucional necessário das empresas e do contexto que vivem.
3 sinais para evitar a jornada do abandono
1 – Pouca clareza nos processo de desenvolvimento de carreiras: É quando a empresa atrai o candidato, mas não tem políticas de integração e inclusão. Ou ainda quando a carreira do colaborador não é monitorada pela área de Recursos Humanos e pelo gestor. Por fim, quando não existe uma projeção de quando o candidato estará nos próximos anos.
2 – Ausência de incentivos para pertencimento: Ao desenvolver a pesquisa, tanto no formato qualitativo, como no quantitativo, os pesquisadores perceberam que a falta de identidade nos espaços, tanto organizacionais, como nos acadêmicos, prejudicam a trajetória da pessoa negra.
3 – Escassez cognitiva para decidir sobre a carreira: Existem códigos corporativos que só pessoas brancas conseguem ler, isso acontece porque elas foram ensinadas para isso, ao contrário da maioria das pessoas negras, que só estão acessando esses códigos agora. Nesse sentido, há escassez de entendimento na hora de decidir sobre sua própria carreira.
A pesquisa "Lideranças em Construção" escancara o que nós profissionais negros já sentimos na pele: a branquitude não se mexe para promover a diversidade, muito pelo contrário, é capaz de sabotar as iniciativas que promovem profissionais negros.
A jornada do abandono é a comprovação do que a Firma Preta reafirma desde o seu primeiro dia. Incluir profissionais negros nas empresas não é suficiente para promoção da diversidade. A integração de pessoas negras nesse jogo corporativo é um ponto crucial para a potencialidade delas em cargos de liderança. A pergunta que fica é: você, que se diz branco aliado, está disposto a pôr fim nessa sabotagem? Voltaremos a falar sobre a Jornada do Abandono em uma próxima edição.
*Emílio Moreno é um dos fundadores e atual conselheiro da Firma Preta
Vagas da Edição
Pesquisa. O Instituto de Psicologia Organizacional procura por analista de pesquisa para atuar remotamente. A pessoa precisa ter formação em Ciências Humanas, Ciências Sociais, Direito, Relações Internacionais ou afins. A contratação é CLT. Inscrições até hoje.
Bolsa. A Fundação Lemann oferece bolsas de 100% para o Programa MicroMasters em Dados, Economia e Política de Desenvolvimento (DEDP), oferecido pelo Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL) e pelo MITx Courses. Inscrições até 21/5.
Estágio. A Light, companhia responsável pela distribuição elétrica do Rio de Janeiro, prorrogou a data do seu programa de estágio até o dia 5 de maio. São vagas para alunos de Engenharias (Elétrica, Mecânica, Produção e Civil), Ciências Contábeis e Econômicas; Administração; Direito; Estatística; Psicologia; Ciência da Computação; Sistema da Informação e Análises de Sistemas (com foco em programação). Trabalho presencial. Mais informações no link.
Estágio II. Vaga aberta para estágio em comunicação no Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável para estudantes de publicidade ou comunicação e marketing. A oportunidade é para RJ ou SP. Mais informações no link.
Desenvolvedor. Programa da ONU para o Meio Ambiente tem duas vagas abertas para desenvolvedor Wordpress. São oportunidades remotas com inscrição até 26/4.
Saúde Mental. Até 26/4 é possível se inscrever para a vaga de Pessoa Psicóloga Sênior no Hospital Sírio Libanês. O profissional precisa ter graduação em Psicologia com Residência Multiprofissional em Saúde da Família ou Residência Multiprofissional em Gestão de Serviços de Saúde. Trabalho Presencial em São Paulo. Mais informações no link.
Alimentos. Oportunidades abertas para Analista de Eventos Pleno e Analista administrativo de Vendas na Nissin Foods. As duas vagas são presenciais em São Paulo.
Museu. Até dia 25/04 é possível se candidatar para a vaga de Assessora de Planejamento e Gestão no Museu Afro em São Paulo. O salário é de R$8800 e a oportunidade é CLT. É preciso ter graduação em Gestão ou Produção Cultural, Gestão Pública, Museologia, Artes ou áreas correlatas. Mais informações no link. Os currículos devem ser enviados para curriculo@museuafrobrasil.org.br mencionando o nome da vaga.
Para pensar
Muito se cobra do Estado brasileiro, mas pouco se fala da responsabilidade de Portugal em todo o processo de desigualdade e racismo que enfrentamos hoje no Brasil. Na semana passada, sete instituições brasileiras assinaram um manifesto cobrando medidas de reparação efetivas ao Estado português, durante o Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU, em Genebra. Ontem, pela primeira vez, houve reconhecimento por parte de Portugal da sua responsabilidade em todo esse processo: