
Conhecendo instituições diversas fora do país
O racismo nestes ambientes é um dos mais difíceis de combater.
Acredito que minha experiência de estudar fora tenha ajudado bastante a impulsionar meu currículo de forma positiva. Porém, em muitas situações, ainda não é o suficiente para garantir o ingresso e manutenção nas áreas de atuação em que estou ou sonho em fazer parte. Neste mês, gostaria de compartilhar um pouco da minha experiência em entidades internacionais, tanto do terceiro setor quanto corporações, para contar como a questão da diversidade também é um paradoxo aqui na Polônia e em diferentes lugares.
Por aqui, muitas vezes, as instituições que se dizem diversas e inclusivas só analisam os números de composição delas para se destacar no mercado com o discurso da diversidade - algo que sabemos também acontecer no Brasil. Na hora de averiguar como se dão as relações de trabalho, especialmente ligadas às minorias, seja em posições voluntárias ou operacionais, elas falham significativamente em analisar a manutenção destas pessoas dentro destas entidades. O racismo dentro destes lugares é um dos mais difíceis de combater porque uma instituição que se considera diversa, inclusiva e respeitosa acha que só os números já são suficientes.
Muitas pessoas, especialmente as brancas, que têm o privilégio de viajar o mundo, acreditam que são tolerantes por serem conhecedoras de diversas culturas e elas piamente estão certas de que não são racistas. Elas estão dentro das empresas acreditando que estão abertas à diversidade. Portanto, se você como minoria diz que estes indivíduos estão cometendo discriminação racial é como se o criminoso fosse você. Eles nos respondem que “não seriam capazes” e o argumento é que “já viajaram para vários lugares”, “conhecem várias pessoas de países diferentes”.
Ainda existe a ideia de que o racismo e qualquer outro tipo de discriminação precisam ser explícitos. Então, se a pessoa tem consciência de que não gosta de certas minorias, ela fará de tudo para apontar outros problemas que não levem a entender que ela está discriminando. Se a pessoa não tiver essa consciência, ela vai jurar de pés juntos que não é o problema, mesmo que se tente explicar que as atitudes racistas podem independer da vontade de fazê-las ou não. Então, no final das contas, eles viram a vítima e nós viramos os neuróticos que veem racismo em tudo.
Quando vi o “boom” de empresas procurando especialistas em diversidade, pensei que isso seria uma ótima oportunidade de finalmente aplicar a minha experiência para melhorar as condições de trabalho para pessoas como eu ou outras minorias que passam por situações semelhantes. Infelizmente, não consegui ainda uma posição nesta área e tenho muito receio de que isso só concretize a permanência de pessoas privilegiadas ditando o que é diversidade e inclusão e potencialize a normatização de discriminação implícita no trabalho.
Gostaria de terminar o texto de forma mais otimista, porém, ainda não consegui uma forma de lidar com este racismo implícito no paradoxo da diversidade no mundo do trabalho. Também é importante dizer que ele não somente acontece em corporações, mas também em organizações sem fins lucrativos. Por fim, para nos mantermos dentro destes ambientes é uma luta a cada dia pela sobrevivência em meio a ataques diretos e indiretos, mas sigamos sempre tentando encontrar um equilíbrio para manter o emprego e a saúde mental da melhor forma possível.
Seguem duas oportunidades abertas:
A oportunidade fortalece a capacidade de liderança, a participação política e o conhecimento dos direitos humanos dos jovens de organizações afrodescendentes da América Latina e do Caribe, o que se traduz na implementação de estratégias e práticas eficazes de defesa dos direitos humanos em nível local, nacional e regional.
Para participar, você deve ter entre 15 e 29 anos de idade; falar, escrever e ler em espanhol; participar ativa e responsavelmente em uma associação, organização coletiva, nacional e/ou rede internacional dedicada à promoção e defesa dos direitos dos afrodescendentes na América Latina e no Caribe; auto-identificar-se como afrodescendente; ter acesso à Internet. (Prazo: 30/06/2021)
Quer estudar na Alemanha? O edital do Programa Helmut Schmidt já saiu!
O Programa Helmut Schmidt, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) concede bolsas para oito cursos de mestrado na área de Políticas Públicas e Boa Governança na Alemanha. Em 2021, podem se inscrever jovens formados em Ciências Sociais, Ciências Políticas, Direito, Administração Pública, Economia ou áreas afins. O principal objetivo do programa é a formação de líderes e profissionais que, ao retornarem para seus países de origem, contribuam para o aperfeiçoamento democrático da gestão pública. Nesse contexto, buscam-se jovens com forte engajamento social e político. O programa tem diversas vantagens, como auxílios financeiros e um curso pago de seis meses de alemão. Mais informações no edital. (Prazo: 31/07/2021)
Vagas desta edição
Adolescentes. A UNICEF Brasil está com vaga, em Brasília, para consultoria na área de Desenvolvimento e Participação de Adolescentes (vaga afirmativa para pessoas negras e indígenas). A pessoa contratada apoiará a gestão de projetos, assistência técnica e consolidação de redes e coletivos de adolescentes existentes. Inscreva-se até 03/06.
Mães. O Banco BV abriu processo seletivo para mães fora do mercado que estão em busca de uma recolocação profissional. As oportunidades do “Programa Lugar de Mãe” são para candidatas de nível superior moradoras de São Paulo, mas por enquanto segue o regime home office.
Gelada. A Ambev Tech realizará entre maio e junho um programa de formação voltado para pessoas que desejam trabalhar com tecnologia. O Start Tech será voltado para mulheres (cis e trans) e pessoas negras. Inscrições: podem ser feitas até 16/6, no site.
Direito. A Organização de Direitos Humanos, Justiça Global, no Rio de Janeiro, busca advogada/o negra/o para a prestação de serviços na área jurídica. As pessoas interessadas devem enviar currículo, carta de apresentação e contatos de referência até o dia 11/06 para contato@global.org.br.
Reportagem. A Reuters está contratando um repórter para a sua equipe de notícias latino-americanas. Entre as responsabilidades, a produção de alertas de notícias de empresas em tempo real e resumos em inglês de diferentes fontes em espanhol e português. Esta posição é para a Cidade do México.
Estágio. O Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio) está recrutando para a vaga de estágio em administração. Entre as qualificações, forte capacidade de trabalhar em um ambiente de autonomia, organização, gerenciamento de tempo e comunicação. Se você tem interesse na vaga, inscreva-se até 07/06.
Estágio 2. A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) abre processo seletivo para estágio em Brasília e no Rio. As inscrições começam na próxima terça-feira (1º) e vão até 13 de junho. Veja o regulamento. Os interessados em concorrer devem fazer o cadastro e realizar a prova online no site da Super Estágios.
Jornalismo. O Instituto Sou da Paz está com processo seletivo aberto para estágio na Assessoria de Imprensa. A vaga é destinada a estudantes que estejam cursando o 2º ou 3º ano do curso de Jornalismo na faculdade de São Paulo (Capital ou Grande São Paulo). Os currículos devem ser enviados até o dia 10/06. Confira o edital.
Projeto. A Docplanner, plataforma de reserva de médicos conhecida como o "booking" dos médicos, está com vaga aberta para Project Manager em Curitiba. As inscrições podem ser feitas.
Antirracista. O Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida realizará aula inaugural do ano letivo de 2021 tendo por conferencista o professor Kabengele Munanga sob o título "O Papel da Universidade na Luta Antirracista e na Defesa das Políticas de Ações Afirmativas". No dia 02/06, às 18h30, no canal do NEPP-DH no YouTube.
Pra pensar
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💻 Com curadoria, redação e edição de Emílio Moreno e Juliana Gonçalves. Direção de arte, Larissa Cargnin e colaboração de Louise Ferreira.
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Muito bom o texto sobre a diversidade corporativa. Não compartilho a crença de que corporações são um caminho para um mundo mais igualitário (isso só vai começar a ser realidade quando o capitalismo acabar, mas isso é outro papo).
No entanto, considerando o ambiente dado, é exatamente isso aí que vc descreveu: pessoas brancas felizes porque estão fazendo vídeos e cards com pretxs. Empresas só mudam se seu negócio e lucro estiverem ameaçados e essas mudanças só virão com mais conformismo, justamente para mudar um pouco e garantir esses negócios e lucros como estão. Busca-se pretxs felizes que não façam a branquitude corporativa pensar nos seus privilégios e na sua batalha para manter o mundo homogêneo e branco.