A adoção do regime de trabalho de quatro dias vem sendo debatida, testada e já é realidade em alguns lugares. Mas essa discussão parecia ser algo distante para quem trabalha no varejo. Até uma trend ser iniciada no TikTok a partir de um vídeo do influenciador Rick Azevedo que deu início ao movimento VAT - Vida Além do Trabalho. A mobilização pede o fim da escala 6x1 e a adoção do modelo 4x3, prezando pela qualidade de vida do trabalhador.
No vídeo, Rick, indignado por conta de uma troca de folga na farmácia que trabalhava, argumenta que o trabalhador não consegue ter vida além do trabalho com apenas um dia de descanso - comparando o regime a uma escravização moderna. Ele cobra equilíbrio entre a jornada de trabalho e a vida pessoal. Que é o que todo mundo quer. Não é mesmo?
Tanto é que a trend deixou as redes sociais e ganhou as ruas. Além de realizar panfletagem para a divulgação, o grupo criou um abaixo assinado que conquistou ampla adesão popular. Com o apoio alcançado e fazendo mais barulhos que os sindicatos, o movimento não é bem visto pelos varejistas.
Os empresários alegam que o modelo é inviável por exigir maior número de contratados e que isso aumentaria muito os custos. O que vai contra a declaração do ministro do Trabalho Luiz Marinho que afirmou em setembro do ano passado que a economia suportaria sim quatro dias de trabalho.
Todo o debate da jornada 6x1 passa pela saúde mental do trabalhador. Tema no qual avançamos muito nos últimos anos e resultou na classificação do burnout como doença ocupacional. Ninguém quer deixar de trabalhar, muito pelo contrário, mas todos desejam jornadas mais justas para todos e não só uma parte da população.
Hoje, as regras da CLT não comportam a escala 4x3. Mas trocamos algumas mensagens com o Rick Azevedo que garante que o VAT chegará ao congresso nacional. Confira:
Rick, com a repercussão nas redes e nos jornais, sabemos como começou o movimento. Mas como a ideia do trabalho 4x3 se apresentou para você?
Eu vi várias reportagens sobre outros países, como a Irlanda e a França,que já estavam com essa escala em funcionamento. Depois eu também vi uma reportagem dizendo que essa escala já estava sendo testada no Brasil. E ainda a fala do ministro do trabalho em que ele diz que o Brasil suportaria uma escala 4x3.
Como você descreve o perfil dos trabalhadores da escala 6x1 que você teve contato através do VAT? Acredita ter algum recorte racial?
São pessoas que não tiveram oportunidade de estudar ou se organizar financeiramente para recusar trabalhar nessa escala 6x1. Quem tem condições e uma família com estrutura financeira boa simplesmente recusa e não vai trabalhar dessa forma. Então, no geral, as pessoas que compõem o movimento são trabalhadores de classe média baixa, que não tem uma formação para conseguir um emprego melhor - mas existem também os que se formam e acabam tendo que aceitar trabalhos no varejo porque não acham oportunidades nas suas respectivas áreas.
Eu acredito que exista sim um recorte racial e que a maioria das pessoas que estão na escala 6x1 são pessoas pretas. Mas não posso afirmar com toda certeza porque não tivemos ainda nenhum estudo que possa verificar esses dados de forma efetiva.
Quais os caminhos que o movimento pretende percorrer neste novo ano?
Os nossos próximos passos serão uma grande manifestação na Av. Paulista e na Praça dos Três Poderes em Brasília. Também levaremos o debate para uma audiência pública no congresso nacional. Nós queremos realmente o fim da escala 6x1 e não daremos paz até que essa escala desumana seja retirada da CLT.
Vagas da Edição
Social Media. A Play 9 procura por gerente e coordenador de social media. Ambos irão atuar com time de Social Media, além dos fluxos e processos de trabalho. A vaga é híbrida, com contratação PJ e no Rio de Janeiro. A empresa reforça que o processo seletivo é somente para pessoas negras.
Marketing. A cervejaria Heineken tem vaga afirmativa para especialista em marketing que será o ponto focal para o núcleo de negócios da área de Beyond Beer e Não Alcoólicos, garantindo o gerenciamento de dados e inteligência de marketing das marcas. É preciso ter graduação em Administração de Empresas, Marketing ou Economia. A vaga é presencial em São Paulo.
Proteção. A Cruz Vermelha busca assessor de proteção para monitorar o ambiente humanitário e as consequências da violência urbana em Fortaleza e contribuir na identificação das necessidades das vítimas. É preciso ter formação na área de Ciências Sociais, Ciências Humanas ou áreas afins. A contratação é CLT e é possível se candidatar até 31/1.
Mulheres. A ONU Mulheres procura por consultora para apoio à comunicação e advocacy em Brasília. É preciso ter formação em comunicação, marketing ou mídias digitais. Além de possuir registro profissional. Inscrições até 30/1.
Advocacy. A Indique está à procura de uma pessoas Assessora Técnico para fazer parte do time da Península Participações e atuar em ações de advocacy e implementação em formação. É preciso ter Licenciatura, Administração Públicas, Direito ou correlatas. Mestrado em educação é um diferencial. A vaga é CLT, híbrida em São Paulo.
Audiência. Área de soluções de audiência da Globo procura por pessoa desenvolvedora de Full Stack Senior. A vaga é remota e exclusiva para mulheres. É preciso ter experiência em Python, metodologias ágeis e utilização de APIs.
Pesquisa. IPEA tem chamada pública para analista de pesquisa com título de mestre nas áreas de Economia, Geografia, Ciências Sociais, Estatística, Demografia ou áreas afins. O edital está aberto até 24/1.
Imprensa. Médicos Sem Fronteiras tem vaga aberta para estágio de imprensa para estudantes de comunicação. A vaga é afirmativa para pessoas negras e tem inscrição aberta até 29/01.
Para pensar
Todo ano chove muito no verão e todo ano tem enchentes na Baixada Fluminense. Todo ano a cor dos atingidos é a mesma. Sabe o nome disso? É racismo ambiental.